domingo, 6 de março de 2011

Preconceito em Aventuras de Xisto

O que vou contar aqui, nunca contei para ninguém. Tenho vergonha de falar sobre o assunto. É um trauma de infância e foi provocado por um livro adotado na escola como LEITURA OBRIGATÓRIA.
Acho que eu estava na quinta ou na sexta série quando a professora MANDOU que  nós lêssemos o livro As aventuras de Xisto. É um livro sobre um garoto na Idade Média, com bruxos e bruxas. As bruxas são as vilãs, e são mulheres velhas, corcundas e feias. Como na época da inquisição.
Mas foi uma outra coisa no livro que provocou todo o problema. Os dois personagens principais da história são Xisto e Bruzo. O livro diz que: “jamais iria haver no mundo mais generoso coração, mais lúcida inteligência e mais nobre alma do que a de Xisto!”. Xisto era magro, loiro de olhos azuis, um típico ariano! Já Bruzo “engordou e ficou barrigudo, mas cresceu um pouco. Amigo de Xisto desde a infância, continuou a sê-lo na adolescência. Pena que tivesse raciocínio um tanto confuso”. Enquanto Bruzo é gordo e burro, Xisto é magro e inteligente. E Xisto é loiro. Bruzo é moreno! A autora Lúcia Machado de Almeida aprendeu bem com Lobato como ser racista e eugenista.
Hoje eu consigo olhar para esse livro e até ler, mas durante muito tempo eu passava mal só de olhar para a capa dele. Mas guardei como uma recordação do suplício pelo qual passei e como uma advertência. Claro que ele está escondido. Não iria deixar meus filhos terem contato com esse tipo de livro, cheio de racismo e preconceito contra pessoas acima do peso.
Acontece que quando eu era pequeno, eu já era meio gordinho. Era também moreno. E alguém resolveu me chamar de Bruzo. Me chamavam de Bruzo e diziam que eu era gordo e burro como ele! Eu chorava muito, e não queria ir para a escola, mas minha mãe me obrigava. Eu cheguei a falar para minha mãe sobre o livro, mas ela disse que a professora que tinha mandado ler e que a professora não ia escolher o livro errado. E ir para a escola ia se tornando um suplício cada vez maior, uma tortura. Eu chegava e as crianças já iam gritando: Olha o Bruzo, burro e gordo!
E o pior é que tivemos até que fazer uma prova sobre o livro. Fiquei traumatizado e nunca tive coragem de falar sobre isso com ninguém, mas tenho coragem agora.
Assim como eu, muitas outras crianças acima do peso devem ter sofrido com esse livro e obrigada a ler ele. E o pior de tudo é que ele ainda está aí, em muitas bibliotecas escolares e adotava por professores como leitura obrigatória. Que mal estamos fazendo para nossas crianças! E ninguém faz nada!

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